

Milei nega indulto a Kirchner e cresce o debate sobre varanda da ex-presidente
O presidente argentino, Javier Milei, descartou nesta quinta-feira (19) conceder indulto à líder opositora Cristina Kirchner após sua condenação por corrupção e afirmou que "fez-se justiça", em meio ao aumento da tensão sobre o uso que a ex-presidente fará de sua varanda durante o cumprimento da pena de seis anos de prisão domiciliar.
"Não tenho a menor intenção de algo assim. Nosso lema de campanha é 'quem faz, paga'. Para mim [o indulto] é algo aberrante", disse Milei ao ser questionado sobre um possível perdão à sua rival de centro-esquerda.
O presidente ultraliberal considerou que "se fez justiça" e que o critério do Judiciário "é independente (...) e, como tal, deve ser respeitado", ao apontar que todos os governos anteriores intervieram nesse âmbito.
As declarações de Milei ocorrem poucas horas depois de o tribunal executor da pena definir que Cristina Kirchner poderá sair à varanda de seu apartamento enquanto cumpre sua pena, após supostas ambiguidades nas condições de detenção da ex-presidente (2007–2015) gerarem forte polêmica.
Na terça-feira, um tribunal concedeu a prisão domiciliar a Kirchner sem especificar se ela poderia continuar saudando seus apoiadores da varanda, como vinha fazendo diariamente desde que a Justiça ratificou sua condenação na semana passada.
Desde então, dezenas — às vezes centenas — de simpatizantes se reúnem em frente ao prédio onde Kirchner mora, em Buenos Aires, e passam longas horas demonstrando apoio à ex-mandatária, na expectativa de vê-la aparecer na varanda do segundo andar.
Após a decisão judicial, a ex-presidente voltou a sair à varanda no início da noite desta quinta-feira e saudou dezenas de apoiadores que a aguardavam nas geladas ruas do bairro central da Constituição.
As paredes do prédio estão cobertas de mensagens e cartas de apoio, e as aparições de Kirchner têm gerado descontentamento entre seus detratores.
– "Não se pode sair à varanda" –
Na decisão de terça-feira, o tribunal havia determinado que Kirchner poderia cumprir a pena em sua residência, mas deveria abster-se de "adotar comportamentos que possam perturbar a tranquilidade da vizinhança".
"Posso sair ou não à varanda da minha casa? Parece piada, mas não é", escreveu Kirchner nas redes sociais na quarta-feira, pedindo clareza sobre "qual comportamento está proibido".
O tribunal respondeu nesta quinta-feira que "não vetou" a Kirchner "o uso e gozo de nenhum espaço específico da arquitetura do imóvel em que habita", segundo a decisão à qual a AFP teve acesso.
A Procuradoria-Geral de Buenos Aires havia considerado negativa a presença de Kirchner em seu apartamento, alegando que poderia gerar perturbações à ordem pública e à segurança.
Enquanto isso, o juiz também solicitou a "instalação de um dispositivo de vigilância eletrônico", segundo outro documento judicial reproduzido pela imprensa local, após dias de críticas de apoiadores de Kirchner que consideraram a medida desnecessária.
O advogado da ex-presidente, Carlos Beraldi, adiantou nesta quinta-feira, mais cedo, que irá recorrer da decisão.
A condenação, ratificada dias depois de Kirchner anunciar sua candidatura a deputada provincial, inclui a inabilitação política perpétua.
Apesar do esclarecimento do tribunal, o humor popular já se apropriou da polêmica sobre a varanda.
O popular programa de streaming Gelatina lançou quase uma dezena de músicas sobre o tema. Muitas usam melodias de clássicos do rock argentino, como "No se puede vivir sin amor", do cantor Andrés Calamaro, cuja letra foi adaptada para "No se puede salir al balcón" ("Não se pode sair à varanda").
Nos arredores da casa de Kirchner, há adesivos com frases como "Sempre varanda, nunca porão", "Sua varanda, nossa alegria" ou "Da praça à varanda, os soldados de Perón".
Na quarta-feira, após Kirchner ironizar com a frase "ainda bem que não tenho vasos de plantas", apoiadores deixaram vasos com plantas em frente à casa com a mensagem: "Para que você regue as vontades".
M.Fierro--IM